Por Terezinha Nunes
Com sete anos de idade, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva saiu de Caetés, em Pernambuco, com sua mãe e irmãos. Em cima de um caminhão pau-de-arara, foi para São Paulo, varrido pela seca inclemente do agreste pernambucano.
Resistir a 3 mil quilômetros de estrada numa época em que uma simples diarréia caseira provocava a morte de crianças no interior do Nordeste foi uma proeza sem tamanho.
Maior proeza ainda foi sobreviver como retirante, e, mesmo sem freqüentar regularmente a escola, conseguir um emprego de torneiro mecânico em uma indústria do ABC paulista e, daí, transformar-se no maior líder sindical do Brasil.
Mas ainda era pouco. Após derrotas seguidas, Lula conseguiu, finalmente, em 2002, eleger-se Presidente da República, sendo o primeiro representante das classes menos favorecidas do país a chegar a tão alto posto.
Só esta biografia já seria suficiente para transformar o ex-presidente em exemplo não só para o Brasil como para a América Latina e para o Mundo.
Mas Lula contou com algo mais para aumentar sua fama. Por sorte, chegou ao poder na época em que a economia brasileira estava estável, após o Plano Real implantado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, e atravessou oito anos de mandato sem que uma crise internacional ameaçasse seus planos, ao contrário do que acontecera no tempo de FHC. Com os cofres cheios transformou o bolsa-família em febre nacional, ganhando fama de pai dos pobres.
Embora não tenha resolvido problemas graves do país como o atraso educacional – pelo contrário, chegou a apregoar que não precisou estudar para ser Presidente – tenha deixado a saúde na UTI e não ter tomado nenhuma providência séria para enfrentar o problema do tráfico de drogas e da violência urbana, Lula foi o presidente que conseguiu os mais altos índices de popularidade de que se tem notícia.
Mas como milagres não existem na política, Lula, que chegou a ser capa de várias revistas internacionais e viu a presidente Dilma ser obrigada a afastar sete ministros por ele nomeados, após denúncias de corrupção, está vendo agora sua biografia ser definitivamente manchada pelo escândalo do Mensalão, uma forma engenhosa que o seu Governo encontrou para forjar uma maioria no Congresso à base do pagamento de propinas a políticos e partidos fisiológicos capazes de vender sua consciência pelo acréscimo de mais dígitos em suas contas bancárias.
O que teria levado Lula e o PT a tão rumoroso escândalo quando o presidente, por sua popularidade, poderia ter buscado na própria população o amparo para governar a despeito de eventuais problemas congressuais?
Certamente que a busca do poder pelo poder, a prepotência e a arrogância. A maior prova foi a submissão do Congresso, a redução da oposição ao mínimo possível – Lula chegou a apregoar que seu objetivo era derrotar um a um os que lhe faziam oposição – e, por fim, a defesa do controle dos meios de comunicação através de um marco regulatório definido nos corredores do Palácio do Planalto.
Mas um país que consegue democraticamente empossar um operário na Presidência da República sem nenhum transtorno, está maduro institucionalmente.
A evidência maior disso tudo, e com o que Lula não contava, imaginando que ganharia no grito, é a postura do STF que está mandando para a cadeia os envolvidos com o Mensalão, a despeito dos amuos do ex-presidente e do seu partido.
Esta nódoa ficará na história da era Lula como uma mancha da qual o país não se orgulhará.
CURTAS
Menos padrinhos – Humberto Costa e Geraldo Júlio parece que, finalmente, entenderam que não poderiam firmar a própria imagem associados em demasia a padrinhos políticos. Começaram a ocupar mais o horário eleitoral, deixando menos tempo para Lula, João Paulo e Eduardo.
João e Maria – Pegou bem na população da periferia o discurso do candidato Daniel Coelho que, condenando o apadrinhamento, diz na TV que quer ser eleito mas por escolha de “ João, de Maria e de José”. Nas caminhadas, ele tem sido abordado por eleitores que afirmam ter um desses nomes e que decidiram votar nele.
Pegadinha – Depois de ter usado fartamente os cavaletes nas ruas e praças do Recife, o candidato Geraldo Júlio resolveu retirá-los, alegando que estavam atrapalhando os transeuntes. A verdade é que Geraldo já conseguiu o que queria: se tornar conhecido. Com um tempo enorme na TV não precisa mais de cavaletes.
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