O candidato do PSDB a prefeito do Recife Daniel Coelho concedeu entrevista à Rádio Jornal na manhã desta terça-feira. Confira alguns pontos da entrevista do tucano.
Sobre a estratégia de campanha e a avaliação do atual processo.
“A gente está vendo as coisas acontecerem como planejado. Nós esperávamos que com o início dos debates, do guia eleitoral, ficasse evidente que a nossa candidatura estava representando mudança e renovação e que cada vez mais fosse percebido que as candidaturas do PSB e do PT são continuidades do atual governo e do atual modelo de governar do próprio João da Costa. Com isto nós iríamos ter um crescimento, o que está acontecendo. A nossa ideia é de que o debate seja aprofundado. Nós vamos continuar fazendo questionamentos no campo político, sem nenhum tipo de agressão – até porque nossos adversários não são as pessoas, e sim a maneira de fazer política, essa coisa do caciquismo, do coronelismo, de querer indicar o prefeito. Esse sim é o nosso adversário. Dentro do campo político vamos continuar questionando e apresentando nossas propostas, sem querer trazer números fáceis, sem querer trazer a promessa fácil, acho que a ideia agora é de que essas propostas sejam em cima de princípios.”
Sobre Geraldo Julio ser o foco principal nesse momento.
“Não, não tem foco principal nele. A gente tem aí duas candidaturas que representam continuidade do governo: as candidaturas de Humberto e de Geraldo. O foco é contra as velhas práticas, é contra o abuso de poder econômico, é contra a utilização de dinheiro, é contra essa questão da indicação. Geraldo, como candidato, como pessoa, a gente não tem absolutamente nada contra ele. Agora o fato de quererem coloca-lo simplesmente por indicação, porque alguém está pedindo, isso sim a gente vai continuar questionando. É a questão política de sua indicação, quando esse é, na verdade, o grande problema do atual prefeito João da Costa. As dificuldades do Recife se dão porque ele foi indicado, há quatro anos. Ele não foi eleito por um debate realizado entre eles e seus adversários e sim por uma indicação de Lula, de Eduardo e de João Paulo. E a gente não pode deixar que isso se repita na cidade do Recife.”
Sobre caciques e a posição de Sérgio Guerra na vida política de Daniel Coelho
“Sérgio tem sido, em primeiro lugar, muito correto com esse processo de renovação do PSDB. No primeiro ponto por ter dado apoio onde cabe, dentro de sua função de presidente nacional do partido, nos dando toda liberdade pra fazer a condução da campanha, pra fazer o nosso programa de governo, as nossas propostas. Ou seja, ele está dando a confiança não só a mim, mas a toda uma nova geração que está fazendo esse PSDB do Recife. Eu acho que é difícil alguém com a experiência dele, com a liderança nacional, ter a sensibilidade de perceber que esse é o momento de passar o bastão para uma nova geração e deixar que ela faça a condução do partido aqui no município. Então, eu acho que ele tem uma importância, principalmente por essa sensibilidade em perceber que a gente pode fazer a condução desse processo no PSDB do Recife.”
Sobre o fato de Daniel Coelho ser “muito PV” para estar no PSDB
“Eu tenho um compromisso com as causas ambientais e vai permanecer, isso independente da filiação partidária. Até porque eu acho que nós estamos com mais compromisso ambiental dentro do PSDB do que o próprio PV tem hoje. Eu costumo brincar que nós do PSDB estamos usando verde e o PV está usando amarelo. Então, eu não vejo nenhum problema em relação a isso e o PSDB está abraçando nossas ideias e isso é importante. O PSDB nos deu condição, por exemplo, de questionar no ano passado a questão das usinas nucleares. O governo queria fazer uma usina nuclear em Itacuruba e foi dentro do PSDB que nós pudemos fazer esse questionamento. O que a gente tem hoje é realmente uma sintonia muito grande em trazer essa pauta ambiental para dentro do PSDB.”
Sobre a presença de nomes nacionais do PSDB no Recife, para a campanha
“Eventualmente eles podem vir e qualquer apoio, qualquer vinda é importante. Mas isso não é a campanha, isso é uma deturpação do processo político achar que alguém tem que vir de São Paulo pra cá pra fazer com que as pessoas votem no candidato a prefeito. Candidato a prefeito tem que ser votado pelas suas propostas, pela sua capacidade de liderança, pelo que ele tá apresentando à cidade e pelo que representa a candidatura no plano local. Essa é uma eleição local. A deturpação é Lula vir pra cá querer interferir no processo, é Eduardo querer interferir no processo. Apoio é importante, a gente não teve nenhum problema. Colocamos Fernando Henrique sexta-feira no nosso guia, ou seja, nós temos partido, temos uma sintonia com o partido, mas não é uma indicação. O partido não tá indicando Daniel. Quem tem que indicar Daniel pra prefeito é o povo. Como quem tem que indicar os outros candidatos, a indicação tem que vir da população. Essa indicação de cima pra baixo, essa coisa de eleger porque fulano de cima tá mandando, isso é que é um processo equivocado e a gente não quer repetir dentro do PSDB. Então, se tiver a presença de alguém, é como mais um apoiador, mais de alguém que tá acreditando nessa nossa candidatura. Mas de forma alguma como algo que vem lá de cima para indicar aqui na cidade.”
Sobre críticas a Geraldo Julio e a forma dele fazer a campanha, se ele está “aprendendo com Daniel”
“Não, ele não tá aprendendo, seria muita arrogância minha dizer que ele tá aprendendo conosco a fazer campanha. Agora, posso dizer que a gente tá com a felicidade de estar pautando, sim, as suas ações. Nós temos falado nessas questões ambientais, em ciclovias, em calçadas há muito tempo. Ele iniciou sua campanha tentando trazer seu discurso pra esse plano ambiental. Quando a gente começou a mostrar o Recife real, o Recife que eles não mostram na propaganda do governo, eles sentiram a necessidade de também mostrar em seu guia essas ações. Então eu acho que é importante, saber que tá pautando uma candidatura tão poderosa, com tantos recursos, é sinal de que estamos no caminho certo. A gente vai continuar trazendo, inclusive, novas pautas e novos assunto e eu espero que eles continuem nos seguindo.”
Sobre críticas à saúde e a hospitais como o Getúlio Vargas e o HR
“Nós não vamos mostrar hospitais estaduais. A gente sabe que tem muito problema dentro da rede estadual de saúde, mas a eleição é municipal. A gente diz que ela não deve ser nacionalizada ou estadualizada, nós não vamos fazer isso também. Eventualmente pode haver alguma crítica ao governo do Estado, mas a gente não vai pautar no nosso guia as deficiências do governo do Estado. O que a gente tem que questionar na saúde é o sistema de gestão completamente desconectado. Não adianta abrir novo hospital se ele não funciona, se não tem um médico, se a consulta não é marcada corretamente. Por isso que nosso plano de governo, em relação à saúde, está bem mais direcionado a um sistema de gestão do que simplesmente à promessa de construção de novos hospitais. Até porque, na prática, essa coisa de sair prometendo muito, começa a se distanciar da realidade. Quatro anos atrás, João da Costa prometeu a construção de dez policlínicas. Tá agora concluindo apenas a primeira. Então não é um número que vai fazer com que a gestão melhore. O que a gente precisa é de uma gestão informatizada. Quando o cidadão vai na prefeitura com seu documento, rapidamente aparece no computador quanto ele deve de IPTU. Mas se ele vai no posto de saúde e apresenta o documento, ele não existe, ninguém sabe se ele já ficou doente, se foi atendido. Então esse problema de gestão é o mais grave, porque não envolve recursos. É uma questão de iniciativa e por isso nós estamos tentando dar um formato mais moderno na forma como se administra a saúde da cidade para conseguir resultados sem necessariamente estar falando em mais dinheiro ou mais recursos.”
Sobre críticas ao PT e o PSB e o fato de o PSDB também ter governado o país
“O PSDB já faz algum tempo que comandou o país e eu não tenho essa visão partidarizada dos fatos. Eu procuro observar o que aconteceu no Brasil, no Recife, em Pernambuco, da forma mais isenta possível. Eu sei que é difícil, mas acho que não tem ninguém, nem dentro do próprio PT, que não vá reconhecer que no período em que o PSDB governou o Brasil, que foi bom, por exemplo, o fim da inflação. O Plano Real foi um avanço para o país, foi uma conquista daquele governo no período do PSDB. Como também eu não sou cego nem louco para achar que o Bolsa Família não foi bom para o Brasil, que não tirou muitas famílias da miséria. Então eu acho que tanto PSDB quanto PT vão ter seus erros e vão ter seus acertos. Eu não tenho nenhuma pretensão de esconder o que foi errado no governo do PSDB, nem muito menos deixar de reconhecer no que foi que o governo do PT acertou. Eu acho que a gente tem que fazer a política colocando que o que é certo vai ser sempre certo e o que é errado vai ser sempre errado. Nós estamos fazendo um processo de renovação no Recife, nós estamos apresentando uma candidatura nova, com novas propostas, com novas ideias e, acima de tudo, queremos fazer uma política sem essa politização dos recursos públicos. Nós temos hoje uma máquina inchada, elevaram de 3 mil para quase sete mil os cargos comissionados. Com os terceirizados, com toda estrutura governamental, são mais de 35 mil funcionários na prefeitura do Recife. A maioria, à serviço de partidos e de políticos e não do povo. Então a gente quer inverter essa lógica, quer fazer uma gestão mais ágil, mais eficiente, então isso está sendo construído acredito que com todos os que estão participando dessa campanha conosco.”
Sobre uso do mensalão e do discurso da ética na campanha
“A ética é obrigação, ela não pode ser considerada virtude de nenhum candidato. A gente não quer partir pra uma linha agressiva, não é do interesse trazer esses assuntos. Primeiro eu acho que a gente não deve nacionalizar a eleição. A corrupção é nacional, é local, é em todo canto. A corrupção existe. Mas a gente não quer fazer essa nacionalização, como também nós queremos ter respeito aos candidatos que estão ai disputando. Eu costumo dizer isso e já disse, inclusive, numa pergunta inicial, o adversário não é Humberto, não é Geraldo, não são as pessoas. São as práticas políticas, as propostas que eles estão apresentando. Nós não vamos partir pra esse campo agressivo. A questão do mensalão está sendo amplamente divulgada pela mídia, vocês estão dando toda divulgação, toda informação para a população e a população vai avaliar. Mas isso não vai ser linha do nosso debate em nenhum momento porque eu acho que isso não tem a ver com a vida do Recife. As pessoas vão avaliar e vão ver os partidos que estão envolvidos e vão julgar se eles tão merecendo confiança ou não.”
Sobre o fato do prefeito, após eleito, andar pelo centro do Recife
“Uma vez por semana é até pouco. E não só no centro, tem que andar nos bairros, tem que estar presente, tem que conversar com a população, o prefeito tem que ter proximidade com a vida da cidade. Ele tem que estar andando nas comunidades carentes porque a gente não pode estar distante da realidade, distante do povo. A gente sente hoje uma falta de cuidado com o Recife. O prefeito é uma espécie de síndico, ele é um dono de casa, ele tem que tá olhando a calçada quebrada, a iluminação que apagou, esses detalhes são extremamente importantes e isso dá um impacto extremamente positivo à cidade quando ela está sendo bem cuidada.”
Sobre um enxugamento da máquina
“A ideia é a gente ter uma máquina voltada para os interesses da população. Nós queremos profissionais na prefeitura. Nas escolas, professores, enfermeiros nos postos de saúde, nós queremos garis, engenheiros, arquitetos… O que a gente não quer é gente a serviço da política, isso é que tem que acabar. Então nós precisamos fazer uma modificação nessa utilização dos funcionários públicos. Precisamos melhorar a remuneração do funcionário efetivo, do funcionário de carreira, esse tem que ganhar bem, não o comissionado. Cargos de chefia ocupados sempre por função gratificada, por funcionários concursados, então o que a gente quer é diminuir… O enxugamento da máquina não seria a palavra correta, a palavra correta seria fazer uma melhor utilização da máquina. Ela tem que ser usada a serviço do povo e não a serviço do prefeito e seu partido.”
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