O maior derrotado do impeachment
Lula tentou, sem sucesso chegar à presidência da República em três ocasiões, em 1989 perdeu para Fernando Collor no segundo turno e em 1994 e 1998 para Fernando Henrique Cardoso, ambas no primeiro turno. Até que em 2002 conseguiu se lançar a presidente. Foi beneficiário de um processo que fulminou a candidatura de Roseana Sarney, então líder nas pesquisas pelo PFL, que foi um escândalo de corrupção envolvendo o marido de Roseana.
Naquele momento Lula acabou beneficiado, chegando a um segundo turno e derrotando José Serra. A vitória de Lula ocorreu num contexto de crises internacionais que estavam prejudicando a popularidade de Fernando Henrique, que respingou em José Serra, candidato tucano à sucessão de FHC. Uma vez no governo, Lula foi obrigado a manter a política econômica de FHC, dando continuidade ao tripé macroeconômico do câmbio flutuante, das metas de inflação e do superávit primário. Com a sinalização ao mercado, Lula foi ao governo, que pouco a pouco foi ganhando a confiança do empresariado e da sociedade.
Lula recebeu um governo estabilizado, que dependia apenas de uma conjuntura econômica internacional favorável. E ela existiu de 2003 até 2008, mas o próprio Lula foi capaz de liderar o país para fugir da crise de 2008, de um limão ele fez uma limonada. Isso possibilitou a Lula fazer o sucessor, ou melhor, a sucessora. Dilma Rousseff foi apresentada como sua sucessora após vários nomes do PT se envolverem em escândalos de corrupção. Dilma venceu a disputa graças ao forte desejo de continuidade do governo Lula por parte da população.
Uma vez no governo, Dilma já se mostrava muito diferente do seu antecessor e padrinho político. Pouco afeita às palavras e às articulações políticas, Dilma que foi vendida como a gerentona, conseguiu se manter bem até junho de 2013, quando vieram as manifestações durante a Copa das Confederações, que implodiram a elevada popularidade de Dilma. O caos se instaurou a partir dali, pois os brasileiros se deram conta de que o bom governo de Dilma nada mais era do que uma peça de ficção criada pelo marqueteiro João Santana.
Vieram as eleições de 2014 e mais uma vez a disputa foi vencida por João Santana, que quando o cerco apertou, soube utilizar como ninguém a fragilidade dos adversários de Dilma no programa eleitoral. Um país dividido saiu das urnas em outubro, quando pouco mais de 51% dos votos válidos permitiram a Dilma mais quatro anos. Já no segundo governo, depois de aplicar um tarifaço que dava indícios do estelionato eleitoral, Dilma continuou a enfrentar problemas de ordem política. Primeiro na eleição da mesa diretora da Câmara dos Deputados, quando no início do seu segundo governo viu Eduardo Cunha, então líder do PMDB, ascender politicamente ao mandato de presidente da Câmara com 267 votos contra o indicado do Planalto Arlindo Chinaglia, que obteve 136. Ali foi o primeiro sinal de que as coisas iam mal no Congresso.
O tempo passou e a situação da economia foi se agravando, com aumento da inflação e do desemprego, desvalorização da moeda, queda da bolsa de valores, aumento da taxa de juros, dentre outras coisas. A sociedade começou a perceber que a economia ia muito mal. Aliado a isso a operação Lava-Jato desnudou o maior esquema de corrupção da história do país, envolvendo próceres petistas e governistas, trazendo luz a um dos maiores problemas da nossa política, que é o financiamento de campanhas eleitorais.
Como se não bastasse, além de mentir aos eleitores na campanha, o governo mentiu aos brasileiros quando não divulgou a verdadeira situação das contas públicas, infringindo a Lei e desrespeitando a relação Executivo/Legislativo através dos créditos suplementares sem autorização do Congresso. As pedaladas fiscais, quando o governo utilizou recursos dos bancos públicos para pagar programas sociais e custear empréstimos a empresários através do BNDES, também colocaram Dilma na berlinda.
No último domingo ficou evidente no plenário da Câmara dos Deputados o que já se esperava há muito tempo. O impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado por 367 votos, 25 a mais que os necessários. O governo, que através de Lula, tentou barrar o impeachment com oferta de cargos, ministérios, emendas e até dinheiro vivo, não conseguiu lograr êxito. Dos 137 votos obtidos por Dilma Rousseff, menos de 100 foram dados por PT, PCdoB, PSOL e PDT, os demais votos foram conquistados junto a deputados de siglas menores e que tinham algum tipo de alinhamento com o governo.
Um governo que tem apenas 137 votos num contigente de 513 mostra que perdeu toda e qualquer condição de continuar a existir. A derrota de Dilma é reflexo da sua total falta de capacidade de exercer o cargo que ocupou por pouco mais de cinco anos. Porém, o maior derrotado neste processo é o seu criador Lula, que viu seu prestígio ruir graças a uma escolha péssima para lhe suceder que acabou induzindo os brasileiros a um erro colossal. O legado de Lula depois deste processo virou pó, a prova foi tanta que não conseguiu sensibilizar nem 150 deputados, mesmo montando um QG num hotel de luxo na capital federal para oferecer mundos e fundos aos parlamentares. Ele foi o grande perdedor, o maior derrotado.
Comando – Ninguém entendeu muito bem a decisão de Sebastião Oliveira em se abster do voto pelo impeachment após sair da secretaria dos Transportes para participar da votação. Na verdade estava em jogo ali o comando do PR, que estava nas mãos de Anderson Ferreira em Pernambuco. Waldemar Costa Neto, o dono do PR nacional, havia prometido ao Planalto 15 votos contra o impeachment, entre ausências, abstenções e votos contrários. Como Anderson Ferreira decidiu votar pelo impeachment, Sebastião Oliveira acabou herdando o comando estadual da sigla.
Consequência – A principal consequência da mudança de comando no PR estadual será a disputa pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes. Anderson, que era pré-candidato a prefeito, não terá a legenda para a disputa. O PR deverá marchar com a candidatura de Evandro Avelar, secretário do governador Paulo Câmara. Como findou o prazo de filiação partidária, Anderson está fora da disputa pela prefeitura de Jaboatão.
Destino – O gesto do secretário de Turismo Felipe Carreras de não votar no processo de impeachment dando vez ao suplente Augusto Coutinho, acabou beneficiando o prefeito Geraldo Julio. É que pela ordem alfabética, caso Felipe votasse o 342º voto seria de Daniel Coelho e não de Bruno Araújo. Como Daniel é pré-candidato a prefeito do Recife iria capitalizar politicamente com o voto que guilhotinou Dilma Rousseff.
Retribuição – Os deputados Luciana Santos (PCDoB) e Silvio Costa (PTdoB) foram muito leais ao Planalto e a Dilma Rousseff com posicionamentos bastante contundentes contra o impeachment de Dilma, que eles sempre se referiram como um “golpe”. Como contrapartida o PT deverá retirar a pré-candidatura de Teresa Leitão em prol de Luciana em Olinda e de João Paulo em prol de Silvio Costa Filho no Recife.
RÁPIDAS
Presidência – Estão cotados para a presidência da Câmara dos Deputados em substituição a Eduardo Cunha, que a partir de agora é a bola da vez para perder o cargo, os deputados Rogério Rosso (PSD/DF), que conduziu com maestria a comissão do impeachment e ganhou um novo patamar na Câmara dos Deputados e Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Confiança – Por falar em Jarbas, o deputado pernambucano que já foi prefeito e governador, virou o “homem de Michel Temer” na Câmara dos Deputados. Jarbas foi correto com o vice-presidente no processo que antecedeu o impeachment e caso seja confirmada a ida de Temer para a presidência, Jarbas terá papel importante no governo, seja presidindo a Câmara, liderando o governo ou até mesmo ocupando algum ministério.
Inocente quer saber – Com quantos votos o impeachment de Dilma Rousseff passa no Senado?