Por Maurício Costa Romão*
Não obstante o desgaste que permeou a definição de sua candidatura à prefeitura do Recife, com sequelas internas e externas, o PT continua exibindo apreciáveis ativos na eleição deste ano: a reconhecida força da sigla na capital, os méritos do candidato principal e a densidade eleitoral do seu companheiro de chapa, ademais do decidido apoio de Lula, sua maior e mais popular estrela.
Apesar de toda essa musculatura, no bojo da qual se inclui a liderança que o partido detém em todas as pesquisas de intenção de votos para prefeito do Recife, sempre com larga margem de diferença para o segundo colocado, é visível a apreensão da sigla face à candidatura pessebista. Esta, desde o nascedouro, tem chamado a atenção pelo impressionante volume de campanha eleitoral nas ruas, desenvoltura do seu candidato e notável crescimento de intenções de voto.
Essa apreensão, transportada para o campo do embate entre titãs, com sabor de vingança política, tem mobilizado de tal sorte a cúpula do partido que a eleição de Humberto Costa tornou-se “uma questão de honra para o PT”, no dizer do seu presidente, Rui Falcão.
E qual a estratégia do partido para a defesa da honra petista, vale dizer, para conter a avalanche da candidatura de Geraldo Júlio, derrotar o PSB e, por via de consequência, o governador Eduardo Campos?
Pelos movimentos iniciais da campanha, identificam-se três linhas programáticas: (a) defesa do legado da administração dos doze anos à frente do município; (b) lançamento de propostas para a gestão da cidade e (c) uso exclusivo e extensivo da vinculação do candidato ao ex-presidente Lula.
Talvez pelas dificuldades de lidar com o item (a), até por conta da avaliação negativa da atual gestão, e diante do fato de que as ideias propositivas constantes de (b) ainda estão sendo apresentadas ao eleitorado, e cuja receptividade só será possível mensurar nas urnas, a campanha petista tem passado a impressão de que a maior ênfase de sua estratégia repousa no item (c), em Lula.
De fato, chama à atenção a carga de referências ao ex-presidente, à sua esperada visita ao Recife, aos feitos do seu governo, à necessidade de veicular suas mensagens audiovisuais, de divulgar suas fotos, etc., etc.
Coluna política de importante jornal da capital (terça-feira, 14/08) retrata bem a sensação mencionada:
“…No Recife, os petistas apostam no apoio do líder maior do PT para garantir a vitória da chapa encabeçada por Humberto Costa. Pesquisas internas recentes, checadas por membros do PT, dão conta de que a influência de Lula sobre o eleitorado é o dobro da que exerce o governador Eduardo Campos…”
Estará o PT querendo reeditar o ambiente da eleição de 2008, no qual foi muito bem-sucedido e onde a estrela de Lula brilhava infinita?
Segundo o cientista político Antônio Lavareda, as marcas distintivas daquele pleito foram:
(1) a economia (clima de otimismo, de contentamento da população com a situação econômica, beneficiando candidatos dos partidos que estavam no poder);
(2) a parceria (diante da aprovação elevada do governo federal, partidos da base do governo “nacionalizavam” e oposicionistas “municipalizavam” a campanha. Os primeiros exibiam as parcerias efetuadas; os segundos, enalteciam a capacidade de realizá-las); e
(3) a continuidade [a reeleição instaura tremendo desequilíbrio absoluto em favor dos que disputam no cargo (tempo, volume de recursos e propaganda), em detrimento dos desafiantes, tanto assim é que o percentual de reeleitos nas capitais atingiu 95% em 2008].
Transportando essas marcas para 2012, vê-se, de pronto, que o PT não disputa a eleição no cargo, o PSB é da mesma base do governo Dilma, e a economia, embora reverbere a melhoria do padrão de vida de milhões de brasileiros, perpassa dificuldades, incluindo o excessivo nível de endividamento das famílias. Quer dizer, as circunstâncias hoje são outras.
Enfim, a importância do apoio de Lula é, sob todos os títulos, inquestionável. A dúvida que persiste é se na eleição municipal do Recife, num contexto bem diferente de 2008, com seus ingredientes localistas e suas peculiaridades políticas, essa importância terá a dimensão que os petistas estão esperando.
Ademais, a sensação que se tem hoje, onde praticamente não há oposição e todos são governo, é a de que de tanto se usar Lula, urbi et orbi, como apoiador de campanhas, a imagem dele já se incorporou à paisagem…
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. [email protected] http://mauricioromao.blog.br.
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