Uma terça insana
Após os protestos do último domingo reunirem sete milhões de brasileiros nas ruas do país, o governo Dilma Rousseff achou que já tinha encontrado o fundo do poço. Mas o dia ontem foi capaz de mostrar que o fundo do poço do governo Dilma é um buraco negro. A delação do senador Delcídio do Amaral, que foi homologada ontem pelo ministro do STF Teori Zavascki, responsável pela Lava-Jato na suprema Côrte foi explosiva.
O começo do dia trouxe o teor da delação de Delcídio, que envolveu Aécio Neves, Aloizio Mercadante, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Lula, Dilma e mais uma série de envolvidos entre políticos e empresários. De Pernambuco o senador Humberto Costa fez questão de aparecer em mais um escândalo. Além dele, o ex-governador Eduardo Campos foi citado por Delcídio.
A delação é explosiva e quando for investigada a fundo abalará toda a república, trazendo consequências e desfecho imprevisíveis. O cerne da delação de Delcídio é mais uma vez a falta de condições políticas da presidente Dilma Rousseff em continuar no cargo. Seu impeachment deixou de ser um desejo de parcela da oposição para ser o único caminho a ser seguido sob pena de colocar em xeque o futuro do país, sendo o remédio, traumático é bem verdade, mas capaz de quebrar o ciclo negativo que Dilma colocou o país.
Dilma deu demonstrações disso quando cogitou a hipótese de abrigar o ex-presidente Lula na esplanada dos ministérios com o único objetivo de salvar o seu padrinho político das mãos do juiz Sérgio Moro, garantindo-lhe foro privilegiado. A decisão de Dilma, além de sepultar o seu governo terminando de enlameá-lo, dá margens de interpretação de que o julgamento do STF será mais moroso que o de Sérgio Moro e o pior, correndo o risco de acabar em pizza a investigação do ex-presidente. Numa tacada só Dilma colocou na sarjeta o poder executivo, comandado por ela, e o poder judiciário, cujos governos do PT indicaram a maioria dos ministros do STF.
Se o domingo entrou para a história do Brasil como um ato cívico de sete milhões de brasileiros lutando contra a corrupção, a terça-feira era o dia que não deveria ter existido no Brasil, não pela delação de Delcídio, mas sim pela comprovação de que o Palácio do Planalto corrompe pessoas ao seu bel-prazer e trabalha dia e noite para sepultar a operação Lava-Jato. Vergonha é pouco para descrever o que o Brasil vivencia neste momento.
Troca – O deputado Sílvio Costa Filho, pré-candidato a prefeito do Recife, decidiu trocar o PTB pelo PRB, partido da Igreja Universal. O agora ex-petebista será presidente estadual do PRB. Muita gente avaliou que a troca não foi positiva para a sua candidatura, uma vez que ele será constantemente ligado a um segmento da sociedade: o evangélico. Naturalmente isso poderá dificultar o discurso dele para viabilizar uma candidatura competitiva.
Escolha – Conforme divulgamos em primeira mão em nosso blog anteontem, o governador Paulo Câmara escolheu Silvio Neves Baptista Filho para ser o novo desembargador do TJPE. Silvio tem 43 anos, vinte de carreira, e deverá ficar no Poder Judiciário por 32 anos. Ele desbancou José Antônio de Melo e Carlos Gil Rodrigues.
DEM – O Democratas, que deverá confirmar a candidatura da deputada Priscila Krause a prefeita do Recife, receberá o reforço do vereador Davi Muniz, que recentemente se filiou ao PEN mas acabou querendo sair da sigla por divergências com o presidente estadual Romero Cavalcanti. Com isso o DEM passa a ter dois vereadores: Davi e Marcos Menezes.
Sujeira – Citado na delação do senador Delcídio, o senador Aécio Neves mais uma vez se mostrou distante de merecer os 51 milhões de votos das últimas eleições presidenciais. Ficando evidente que ele não tem moral nenhuma para participar de manifestações que critiquem a corrupção do governo Dilma Rousseff. A sujeira de Aécio justifica o motivo, dentre outros, de ter sido hostilizado nas manifestações em São Paulo no último domingo.
RÁPIDAS
Ausência – Figura carimbada nas denúncias envolvendo políticos, pelo menos desta vez o senador Fernando Collor não teve seu nome citado na delação de Delcídio do Amaral. O ex-presidente, por sinal, foi destituído por muito menos do que o acontecido no governo Dilma Rousseff.
Negociação – A negociação que culminou na saída da deputada Raquel Lyra do PSB passou pelo apoio do PDT à reeleição do prefeito Geraldo Julio. O PDT não só apoiará o prefeito do Recife, como também estará alinhado com Antonio Campos em Olinda e Conceição Nascimento em Jaboatão, que deverá ser a candidata do Palácio. Com isso a candidatura do vereador Neco a prefeito estaria sepultada.
Inocente quer saber – Hoje será turbulento em Brasília como foi ontem?