O recado das ruas foi dado
O Brasil presenciou neste domingo a maior manifestação da sua história. Superando com folga todos os movimentos que ocorreram desde junho de 2013 até dezembro de 2015. De acordo com os organizadores tivemos nada menos que quase sete milhões de pessoas nas ruas de todo o país. Um movimento da sociedade, que não se sente representado pelo governo nem pelos líderes da oposição.
Por diversas vezes os minúsculos defensores do governo Dilma tentaram vincular os protestos ao senador Aécio Neves, candidato derrotado por Dilma Rousseff em 2014, como se quem estivesse querendo a saída de Dilma também quisesse a entrada de Aécio. Mas isso foi completamente desmistificado quando, na manifestação da Av. Paulista, o tucano foi taxado de oportunista. Uma pecha extremamente justa a um cidadão que apesar de ser tucano patrocinou em 2006 o chamado “Lulécio”, mesmo com o auge do mensalão e o PSDB tendo naquela eleição Geraldo Alckmin como candidato a presidente. Que em 2008 foi capaz de se juntar ao então prefeito Fernando Pimentel, do PT, para eleger Marcio Lacerda prefeito de Belo Horizonte. As incoerências de Aécio foram pagas com juros e correção monetária, primeiro quando perdeu com seu candidato Pimenta da Veiga para Fernando Pimentel a disputa pelo governo de Minas. Depois, no segundo turno, Aécio foi derrotado por Dilma em Minas Gerais, resultado que praticamente custou-lhe a presidência da República.
Ao PSDB como um todo, ficou a lição de que o partido foi omisso e irresponsável com a prerrogativa que as urnas lhe deram desde 2002: a oposição. Quando o PSDB deixou Lula correr frouxo na sua reeleição e também durante todo o seu mandato, o partido se afastou da sociedade, perdendo a chance de, num momento caótico como esse, ser a alternativa natural ao PT. As quatro derrotas presidenciais consecutivas não foram obra do acaso. Foi fruto de uma postura covarde de um partido que poderia ser o caminho alternativo a tudo que está ai. Isso se perpetuou também durante as manifestações, uma vez que desde os primeiros protestos a quase três anos os tucanos não quiseram participar dos atos. Agora que o cerco se fechou pra Dilma, o PSDB quis capitalizar. Se deu mal. Bem feito!
Para o PT ficou a lição de que o partido não está acima do bem e do mal. Tanto Lula quanto Dilma são passíveis de erros, de críticas e de protestos. O PT fez exatamente o contrário do que pregou a vida inteira antes de chegar ao poder. Na realidade a corrupção petista botou qualquer governo que antecedeu o PT, neste quesito, no chinelo. Enquanto todo mundo estava financiando veículos, comprando imóveis do Minha Casa, Minha Vida, ou até mesmo financiando apartamentos pela Caixa Econômica pra pagar em 25 anos, estava tudo ótimo. Podiam roubar a vontade que ninguém estava nem aí. Porém, há o componente econômico que fez o povo brasileiro acordar para a corrupção. A parte mais sensível do ser-humano é o bolso. Quando ele perde poder de compra e o seu emprego, ele vira bicho. E por isso a insatisfação com o governo Dilma, o PT e Lula cresceu a níveis insuportaveis.
Tambem houve um recado muito claro aos deputados e senadores de todos os partidos. Se eles não derem prosseguimento ao impeachment de Dilma Rousseff, quem sofrerá impeachment nas urnas serão eles em 2018. Estava faltando um grau para o impeachment pegar fogo, esse grau foi dado ontem. E no dia de domingo os sinais foram dados pelas ruas, só não capta esses sinais quem não quiser.
Recife – Em todo o Brasil as manifestações chegaram a quase sete milhões de pessoas nas ruas. Na capital pernambucana não foi diferente. Cerca de 150 mil pessoas participaram do ato na Avenida Boa Viagem, sendo cinco vezes maior que o maior que havia sido realizado no Recife. As imagens da capital pernambucana ganharam o mundo pelas redes sociais.
Bolsonaro – De todos os políticos que tentaram participar das manifestações, o único a ser recebido de braços abertos pelos manifestantes foi o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). É que o social-cristão sempre fez críticas ao PT, a Dilma Rousseff e a Lula sem ter rabo preso com ninguém como os principais líderes da oposição.
Jarbas Vasconcelos – Em Recife um dos poucos políticos cumprimentados pela população foi o deputado Jarbas Vasconcelos, que foi um dos poucos que não se curvaram à popularidade de Lula, sendo um dos senadores mais combativos ao PT. Num momento como esse Jarbas é visto pelo povo pernambucano e brasileiro como o substituto natural de Eduardo Cunha na presidência da Câmara.
Michel Temer – Está se formando um entendimento que o governo Michel Temer é o caminho mais natural para o Brasil. E que ele mesmo não sendo o presidente dos sonhos, seria melhor do que Dilma Rousseff, que definitivamente não tem mais a menor condição de continuar no cargo. O governo Temer já é esboçado nas rodas políticas.
RÁPIDAS
Nababescos – O Fantástico divulgou matéria ontem sobre as viagens nababescas do presidente da Câmara Eduardo Cunha e sua família. Foram nove viagens internacionais em pouco mais de dois anos, totalizando gastos de quase R$ 900 mil.
Sérgio Moro – Maior homenageado dos protestos de ontem, o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava-Jato, afirmou que ficou tocado pelas menções do povo brasileiro, e cobrou que as autoridades eleitas e os partidos devem ouvir a voz das ruas e cortar da própria carne. Moro atribuiu as menções ao seu nome ao êxito da operação Lava-Jato.
Inocente quer saber – O que falta para ser deflagrado o processo de impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional?