Sem Eduardo, manter a tropa unida será difícil
O ex-governador Eduardo Campos não se elegeu governador de Pernambuco em 2006 à toa. Além de ser um excelente orador com grande capacidade de se expressar na televisão, Eduardo era um exímio analista e sobretudo articulador político. Ele conseguiu enxergar, na sua reeleição por exemplo, que não era negócio rifar João Lyra Neto da vaga de vice-governador, porque caso assim fizesse abriria uma discussão gigantesca dentro da Frente Popular que poderia trazer desdobramentos futuros. Então preferiu não mexer em time que estava ganhando e não só foi reeleito como alcançou a maior votação da história de Pernambuco.
Nas eleições de 2012 Eduardo enxergou uma oportunidade de se desvencilhar do PT que não se entendia com a briga de João da Costa e João Paulo. Na hora em que Humberto Costa foi imposto como candidato do partido, Eduardo, que estava assistindo de camarote a autofagia petista, decidiu lançar Geraldo Julio e conseguiu uma frente significativa em torno do seu pupilo. A vitória veio no primeiro turno. Até no momento em que Daniel Coelho chegou a ameaçar a vitória de Geraldo, Eduardo soube utilizar as armas que dispunha para neutralizar o poderio do tucano.
Já nas últimas eleições, mesmo com a sua morte, a tropa ficou unida e Paulo Câmara terminou se elegendo governador no primeiro turno. Mas antes da comoção acontecer e o voto-homenagem ter sido significativo para o êxito do PSB, vale ressaltar que Eduardo montou uma estratégia nunca vista no estado. Foram nada menos que vinte e um partidos integrando a Frente Popular. O candidato socialista alcançou quase doze minutos de televisão contra menos da metade de Armando Monteiro, seu adversário. Isso sem contar com a qualidade do guia eleitoral do PSB, que era anos-luz mais organizado que o do PTB. Dificilmente o resultado teria sido outro na eleição de 2014, senão a vitória de Paulo Câmara, isso só foi possível devido a visão estratégica de Eduardo, que era um profundo conhecedor da política e do seu xadrez peculiar.
Nas eleições de 2016 teremos um cenário distinto. Será a primeira sem a presença física de Eduardo para elaborar a estratégia dos seus candidatos como aconteceu em 2012 e 2014. Apesar de 2014 ele ter morrido quase dois meses antes do pleito, ele foi o mentor de toda a engenharia que girou em torno de Paulo Câmara. Além disso, sua ausência física permitiu, graças a comoção, que a frente de Paulo sobre Armando fosse muito maior do que qualquer prognóstico. O cenário de outubro próximo será um teste de fogo para o prefeito Geraldo Julio, que não poderá contar com o furacão que as vezes se travestia de rolo compressor chamado Eduardo Campos.
Manter a tropa unida não será tarefa fácil para o PSB, que já encontra alguns ruídos de comunicação dentro da própria Frente Popular. O prefeito Geraldo Julio vai precisar comer muito pirão para poder liderar este processo sem os conselhos do seu genial padrinho político para lhe guiar. Se com Eduardo o prefeito Geraldo Julio venceu com apenas 51,1% dos votos válidos, avalie agora sem ele como será árdua a sua missão?
Tempo – Apesar das mudanças na legislação eleitoral, que contabilizará apenas o tempo das seis maiores legendas de cada coligação, o deputado Sílvio Costa Filho deverá contar com o segundo maior tempo no guia eleitoral na disputa pela prefeitura do Recife em outubro, uma vez que contará com PTB, PRB, PTN, PMB e PTdoB. Além deles, o petebista ainda poderá contar com o apoio do PT, do PDT e do PCdoB a depender do cenário que for estabelecido até as convenções.
Isolamento – Mesmo ostentando bons índices nas pesquisas sobre as eleições municipais, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB) segue isolado do ponto de vista dos partidos. Até agora nenhum partido sinalizou apoio à sua candidatura, nem mesmo o próprio PSDB, que só definirá se lançará a sua candidatura perto do processo eleitoral.
Microcefalia – O deputado federal Anderson Ferreira (PR) condenou a possibilidade de realizar abortos com crianças portadoras de microcefalia. Anderson, que é presidente estadual do PR e pré-candidato a prefeito de Jaboatão dos Guararapes, apresentará um projeto de Lei que proíbe a prática de aborto por causa da microcefalia, e acredita que a sociedade não pode ser um mundo de apenas pessoas perfeitas.
Equívoco – Um aliado de Daniel Coelho avaliou em reserva que o deputado fez um péssimo negócio trocando a Alepe pela Câmara dos Deputados. Pela intensa agenda em Brasília, Daniel não está tendo a menor condição de acompanhar as demandas de aliados e pré-candidatos a vereador, que começam a procurar outras candidaturas para apoiar, inclusive a do prefeito Geraldo Julio.
RÁPIDAS
Desidratação – Um dos motivos que podem culminar na desistência de João Paulo em disputar a prefeitura do Recife é o risco de repetir o feito de Cadoca em 2008 e Mendonça Filho em 2012. Além de ter um recall baixo, João Paulo terá que enfrentar a altíssima rejeição do PT, que naturalmente puxará sua candidatura pra baixo. Se disputar e tiver um resultado pífio, João poderá estar sepultando sua carrera política.
Questionamento – A deputada estadual Priscila Krause (DEM) questiona o atraso na obra do Geraldão, que estava previsto para ser entregue inicialmente em julho de 2014, e agora a prefeitura do Recife prorrogou o prazo de entrega para novembro deste ano.
Inocente quer saber – O TSE, com os novos indícios de financiamento ilegal de campanha, cassará o registro da chapa Dilma/Temer?