Por Terezinha Nunes
Desde que o deputado federal João Paulo reabilitou, há quadro anos, a famosa tese do andor, conseguindo eleger prefeito do Recife o seu secretário João da Costa, ruiu também em Pernambuco o preconceito contra candidatos sem expressão política que ganham notoriedade a partir do prestígio dos seus padrinhos políticos.
O que não se poderia esperar, porém, é que o andor virasse uma febre como está acontecendo na eleição deste ano, passando, de algo considerado negativo até pouco tempo atrás, a ganhar ares de notoriedade e de valor inestimável.
De repente, não só o candidato do governador a prefeito, o secretário Geraldo Júlio, que os petistas chamam de “poste”, inundou a capital de placas e adesivos onde aparece permanentemente ao lado do seu padrinho e o próprio governador passou a disparar milhares de telefonemas e cartas apresentando-o aos eleitores, como os petistas passaram a trilhar o mesmo caminho.
Desde que o PT, após idas e vindas, escolheu o senador Humberto Costa como seu candidato a prefeito, que, tanto Humberto quando o seu companheiro de chapa João Paulo, lutam bravamente para garantir a presença de Lula em seu material de campanha ou, quem sabe, em um comício ou mesmo falando na TV.
Geraldo Julio, pela pouca expressão até agora demonstrada nas pesquisas e por nunca ter sido testado nas urnas, necessita desesperadamente da força do governador para se tornar competitivo mas Humberto e João Paulo ganharam eleições importantes, são os dois maiores líderes petistas de Pernambuco mas estão agindo como marinheiros de primeira viagem.
Pelos apelos constantes que têm feito a Lula e à presidente Dilma para que estejam em seu palanque mais parecem novos “postes” do que políticos tarimbados.
Esta semana, um bate-boca entre o candidato Geraldo Júlio e o ex-governador Mendonça Filho mostrou que a oposição, através do DEM, também procura resgatar um padrinho, no caso o senador Jarbas Vasconcelos, agora aliado ao PSB e prestes a subir no palanque de Geraldo Júlio.
Irritado porque Geraldo Júlio referira-se à violência nos nove meses em que foi governador, substituindo Jarbas, Mendonça passou a disputar com o socialista o antigo aliado, registrando que foi um dos principais protagonistas de todo o mandato de Jarbas.
Administrador testado, Mendonça esqueceu suas próprias qualidades para entrar na onda do “andor”.
O que fará o eleitor diante disso?
Recife vir a resgatar seu redentorismo e protagonismo, é algo que não pode estar fora de cogitação, até porque desta capital surgiram muitos debates e idéias que empolgaram o Brasil.
Se isso vier a ocorrer o eleitor pode deixar de lado os padrinhos e escolher seu prefeito considerando o candidato mais adequado para conduzir os destinos da cidade neste momento, independente de grupo político ou mesmo de ideologia. Muito menos de andor.
Afinal, não se pode imaginar uma capital onde as pessoas venham a se comportar como se estivessem em algum grotão do interior onde o candidato ficha suja se mantém no páreo até a última hora, como tem acontecido, e, impedido de ser votado pela justiça eleitoral nos últimos minutos do segundo tempo, mantém sua foto na urna eletrônica, o mesmo número, e registra candidato em seu lugar alguém que possa vir a manobrar, mesmo estando fora do poder.
Na eleição do Recife não há fichas sujas nem entre padrinhos nem entre afilhados mas a lógica é igual. Com a diferença de que aqui quem eleger um poste o fará com plena consciência dos seus atos. No interior, por dificuldade de comunicação, muitos acabam votando no número do partido sem saber quem é o escolhido.
CURTAS
Também no sul
Não é só no Recife que a tese do andor está fazendo escola este ano. Em São Paulo, o ex-presidente Lula tenta eleger o ex-ministro Fernando Haddad a prefeito da capital, sem que ele jamais tenha sido testado nas urnas. Desprezou figuras notórias do PT, como a senadora Marta Suplicy, e se aliou a adversários notórios, como Maluf, para erguer seu poste.
Em Garanhuns
O candidato a prefeito de Garanhuns pelo PTB, Izaías Regis, também apoiado pelo PSB, PT e PMDB, está batendo recorde de exibição de andores no interior. Expôs em seu comitê cartazes distintos ao lado de Lula, Dilma, Eduardo, Jarbas e Armando Monteiro. O difícil vai ser o eleitor enxergá-lo junto de tantos protagonistas.
Geléia geral
Como é apoiado por quase todos os grupos políticos no interior, o governador Eduardo Campos tem liberado sua imagem para ser usada por mais de um candidato a prefeito de um mesmo município. Em Garanhuns, por exemplo,apesar do protagonismo de Izaías Regis, deixou-se fotografar, durante o festival de inverno, ao lado do próprio Izaías (PTB), de Silvino Duarte (PSDB) e de Zé da Luz (PHS), todos candidatos a prefeito. Em momentos diversos, evidentemente.
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