Por Terezinha Nunes
Um dos principais líderes políticos de Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos coleciona, ao longo de sua vida pública, vitórias retumbantes mas também derrotadas impactantes. Se nas vitórias soube aproveitar o momento para construir a imagem que tem hoje, de pessoa combativa a destemida e de excelente administrador , as derrotas foram, igualmente, utilizadas para tirar lições e corrigir rumos. Ou mesmo, como aconteceu duas vezes, para mudar completamente a natureza das coisas.
Em 1990, derrotado por Joaquim Francisco para o governo do Estado num pleito em que o ex governador Miguel Arraes, seu principal apoiador, não quis disputar o senado e ainda formou uma chapinha para deputado federal, provocando tremendo desgaste no palanque, ele decidiu, após um auto-exílio em uma praia pernambucana, seguir seu caminho próprio e preparar os alicerces para um distanciamento completo de Arraes que aconteceria em 1992 quando disputou e venceu a eleição para prefeito do Recife tendo como um dos adversários o atual governador Eduardo Campos.
Logo depois, sacramentaria o distanciamento completo da esquerda, aliando-se aos antigos e ferrenhos adversários do PFL – ex-Arena – para ser eleito governador – cargo ocupado por oito anos – e para vencer a eleição para o senado.
Em 2010, após uma derrota acachapante para o governo do estado, quando todos imaginavam que seria o fim de sua carreira política por ter obtido menos de 20% dos votos,Jarbas novamente repensa seu projeto e decide começar a operar a volta ao ninho antigo, recompondo-se com a esquerda.
“Não vou terminar minha vida pública agarrado com a direita”. Esta frase, muito ao seu estilo, foi proferida por ele para alguns interlocutores mais próximos, no segundo semestre de 2011, quando já começava a analisar o quadro da atual campanha no Recife e não se cogitava nem de longe a possibilidade de um distanciamento entre o governador Eduardo Campos e o PT.
Seria natural, portanto, que, em algum momento, viesse a tentar uma aproximação com Eduardo já que o PT está fora do seu calendário depois que, por duas vezes, Lula esteve em Pernambuco disposto a apoiá-lo para prefeito e governador e o PT local vetou os entendimentos. E , mais recentemente, pela postura que o partido adotou de se distanciar dos princípios éticos e produzir coisas até então impensáveis como o mensalão.
Em aliança com o PSB, Jarbas encerra um ciclo na política de Pernambuco pautado pelas desavenças dentro da própria esquerda, da qual fazia parte, e que, por falta de componente ideológico, descambou para um período de agressões verbais, lado a lado, com ações inclusive na justiça.
Seria difícil explicar uma volta de 360 graus na trajetória de um político tarimbado como ele, sem analisar esse componente pessoal que tem como característica transformar um período de derrota e ostracismo em uma oportunidade para avançar.
Jarbas causou perplexidade em todos os lados. No que deixou e no que agora se insere como personagem até bem pouco tempo maldito.
Só o tempo dirá quem mais ganhou com essa reviravolta, se ele ou Eduardo Campos. Uma coisa, porém, é certa. Nas duas notas oficiais desta semana ele aproveitou os elogios a Eduardo para afirmar que o atual desenvolvimento de Pernambuco foi obra iniciada por ele e continuada e avançada por Eduardo e pontuou que o novo palanque dispõe-se a corrigir os rumos do desenvolvimento do Recife obstaculados pelas administrações petistas.
O aprofundamento da briga com o PT, trouxe prejuízos imediatos a Eduardo que agora vai ter que conviver com o estilo Jarbas que se pauta mais pela afirmação de princípios do que pelo jogo político tradicional que Eduardo pratica como ninguém.
CURTAS
Deus duvida – Está tão conturbado o cenário político pernambucano com o rompimento entre o PSB e o PT que esta semana, um dos expoentes do petismo, afirmou, em alto e bom som, que ainda podem acontecer coisas que “ até Deus duvida”. Na verdade está todo mundo conversando com todo mundo: do PT ao Democratas. No segundo turno, tudo pode acontecer.
De fora – O PMDB vai precisar recompor o relacionamento com os dois principais prefeitos que tem em Pernambuco: Júlio Lóssio, de Petrolina, e Flávio Gadelha, de Abreu e Lima. Eles não estavam presentes na reunião que definiu pela aliança eleitoral entre o senador Jarbas e o governador Eduardo. Foram informados pelos jornais.
Cúpula tonta – Também a cúpula do PMDB nacional, que esteve no Recife há poucos dias para o pré-lançamento da candidatura de Raul Henry a prefeito, foi pega de surpresa. O presidente do PMDB nacional Valdir Raupp chegou a ligar para o prefeito Júlio Lóssio cobrando uma explicação. Foi Lóssio que levou Raul a Raupp para que o PMDB apoiasse a candidatura dele no Recife.
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