Da Folha de S.Paulo – Natuza Nery e Gustavo Uribe
Políticos profissionais, juristas e velhos amigos aconselham o vice a manter a discrição e o ajudam a navegar na crise política
Com a Câmara dos Deputados ameaçando abrir um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer decidiu submergir.
Para não cometer mais deslizes políticos, como quando disse que será difícil a petista concluir o mandato se seguir com popularidade tão baixa, ele acatou conselho dos aliados mais próximos e adotou a discrição como estratégia para evitar novos desgastes.
Nos últimos dias, quando deixa o silêncio, Temer faz declarações controladas. Seus movimentos são sempre testados antes. Cada detalhe de onde vai, o que fará e falará é previamente costurado com seus homens de confiança.
O entourage do vice-presidente é formado por políticos, juristas e empresários. Na área econômica, ele elegeu Delfim Netto como seu principal conselheiro. Os dois se encontram quase toda semana e costumam almoçar às sextas-feiras, quando o peemedebista viaja a São Paulo.
Veio de Delfim a ideia de sugerir a elevação da Cide, o imposto dos combustíveis, proposta feita publicamente por Temer na semana retrasada.
O governo não encampou a sugestão, temendo impacto na inflação. Preferiu patrocinar a recriação da CPMF, medida que o vice-presidente evitou rechaçar publicamente para não ser acusado de atuar contra a presidente.
Antes de opinar sobre medidas políticas ou econômicas, Temer faz questão de ouvir o empresário e advogado José Yunes, seu melhor amigo, que usa como uma espécie de termômetro do mercado financeiro e da indústria.
Responsável por fazer a ponte do peemedebista com empresários, foi ele quem convenceu Temer a participar no início do mês de um encontro organizado pela socialite Rosangela Lyra e de um evento promovido por João Doria Jr.
Na política, o peemedebista tem três correligionários como seus principais escudeiros. Aos ex-ministros Moreira Franco (Aviação) e Geddel Vieira Lima (Integração) Temer faz consultas diárias.
Os dois incentivam o vice a se apresentar como alternativa de poder. Para o Palácio do Planalto, eles são os principais entusiastas do impeachment dentro do PMDB.
O ministro Eliseu Padilha, atual titular da Aviação Civil, é o principal operador político do vice. Em 2014, para garantir a continuidade da aliança entre PMDB e PT, Temer deu a Padilha a missão de localizar os principais focos de resistência ao acordo.
Em São Paulo, o vice tem como preposto o deputado federal Baleia Rossi, responsável por arrematar acordos costurados previamente pelo peemedebista e um interlocutor junto ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Fora do PMDB, o vice-presidente também mantém uma relação próxima com o senador José Serra (PSDB-SP). Eles se distanciaram na campanha presidencial de 2010, quando Serra disputou com Dilma, mas se reaproximaram durante a atual crise política.
Na área jurídica, sua origem, Temer ouve o advogado Celso Antônio Bandeira de Melo e o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, além do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, que assinou o prefácio do primeiro livro de poemas do vice, lançado em 2013 e intitulado “Anônima Intimidade”.