Por Lauriberto Pompeu
Do Jornal O Globo
Com candidatos em apenas quatro das 15 capitais onde haverá segundo turno, o PT tem enfrentado dilemas para se posicionar em disputas onde os dois nomes que restaram são representantes da direita. Em cinco delas, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu adotar a neutralidade — Curitiba, Goiânia, Manaus, Campo Grande e Porto Velho —, mas alas do partido optaram por tomar lado com o discurso de ajudarem a eleger o que consideram “menos pior” para a legenda.
Em Curitiba e Goiânia o cenário é parecido. Na capital paranaense a disputa é entre Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB). Embora Pimentel tenha o PL, de Jair Bolsonaro, na vice, o ex-presidente declarou apoio à candidata, o que a ajudou a chegar ao segundo turno. O PT decidiu que não vai apoiar nenhum dos dois, mas se movimenta nos bastidores para evitar a vitória de Graeml, numa estratégia classificada por petistas como “contenção de danos”.
Por sua vez, em Goiânia petistas dizem que Sandro Mabel (União Brasil), apoiado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), seria preferível a Fred Rodrigues (PL), candidato de Bolsonaro. Oficialmente, porém, o partido não apoia nenhum dos dois e não fará campanha para Mabel.
Já em Campo Grande há uma afinidade maior do PT com Rose Modesto (União Brasil), que até o início do ano comandava a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Ela enfrenta a atual prefeita Adriane Lopes (PP), candidata da ex-ministra e atual senadora Tereza Cristina (PP-MS) e apoiada por Bolsonaro no segundo turno.
Ainda assim, mesmo nessa cidade, o PT optou pela neutralidade. A estratégia foi evitar associar Rose à esquerda e permitir que ela esteja em condições de não perder os votos conservadores para a prefeita.
A situação mais difícil é em Porto Velho, onde o segundo turno é disputado entre Mariana Carvalho (União Brasil) e Leo Moraes (Podemos), ambos ligados ao bolsonarismo. Nessa cidade não há movimentação nem mesmo velada de apoio de petistas a algum dos dois.
Por outro lado, o PL tem posição em todas as 15 capitais com segundo turno e a legenda terá filiados em nove dessas cidades que terão nova eleição no fim do mês. O PT vai ter filiados em quatro capitais no segundo turno.
O secretário de Comunicação do PT, o deputado Jilmar Tatto, disse que em algumas cidades a ideia é adotar a neutralidade visando um acordo para as disputas de 2026. Mas, de acordo com ele, em algumas localidades é preciso respeitar acordos locais.
— Os partidos políticos têm essas contradições regionais e o PT não está imune a isso também. Se não atrapalha o projeto nacional, a gente não interfere, mas se atrapalha, a gente às vezes interfere.
Além das cinco capitais onde o PT adotou neutralidade, o partido tomou lado em outras quatro, mas que não deve ser seguida por todos os filiados.
Em João Pessoa, o PT decidiu pelo apoio ao prefeito Cícero Lucena (PP) contra Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, mas Luciano Cartaxo, candidato do PT que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, não apoiará nenhum dos dois.
O apoio declarado a Luiz Roberto (PDT) no segundo turno de Aracajú também gerou dissidências. O pedetista é o candidato do governador, Fábio Mitidieri (PSD),e petistas defendiam neutralidade na disputa contra Emília Pessoa (PL).
Nessas duas capitais nordestinas o apoio aos candidatos foi articulado pela direção nacional do PT.
Em Manaus, palco de uma disputa entre o atual prefeito David Almeida (Avante) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL), parte dos petistas queria declarar apoio ao prefeito para evitar a vitória de um representante do partido de Bolsonaro.
No entanto, por conta da divisão, a solução intermediária. O PT orientou voto contra o candidato do PL, mas liberou para os filiados apoiarem ou não Almeida.
O prefeito tem o apoio dos senadores governistas Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), mas não é da base de Lula e apoiou Bolsonaro em 2022. Mesmo assim, uma parte do PT considera ele uma opção menos radical do que seria se Alberto Neto fosse eleito.
— Decidimos deixar os três partidos, o PCdoB, PV e PT livres para os seus militantes votarem ou não votarem no outro candidato (David Almeida). O importante é: extrema direita, não — disse o presidente do PT em Manaus, Valdemir Santana, em vídeo divulgando a decisão da legenda.
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