Eduardo Campos era um ladrão…
Caro leitor, diferentemente do que você imaginou, não estamos falando nesta coluna no sentido literal da palavra, haja vista que Eduardo era um ladrão sim, mas de corações. Se estivesse vivo, ontem ele estaria completando 50 anos. Os 49 anteriores foram bem vividos.
Não estamos falando aqui dos políticos tradicionais, de feição sisuda, que sentam na cadeira de governador e se acham donos da verdade, mas sim daquele que soube exercer como poucos a arte de unir pessoas em torno de projetos comuns.
Lembro do já longínquo ano de 2005, quando no sepultamento do ex-governador Miguel Arraes, juntamente com os então pré-candidatos ao governo de Pernambuco Mendonça Filho e Humberto Costa, Eduardo era o mais simpático e mais atencioso com todas as pessoas, mesmo estando vivendo naquela época um momento difícil como a perda de um ente querido.
Foi a partir dali que comecei a observar melhor a figura de Eduardo Campos. Candidato ao governo de Pernambuco, começou com apenas um dígito na pesquisas. De cima de um caixote falou por diversas vezes para o vento. Chegou um dado momento da campanha em 2006 que cogitaram a hipótese dele desistir por falta de recursos. Veio a operação dos Vampiros e Sanguessugas que feriu de morte a candidatura de Humberto Costa, cujo episódio colocou Eduardo no segundo turno.
A promessa dos três hospitais era algo distante para a realidade de Pernambuco. Mendonça e Humberto, que havia sido ministro da Saúde, rechaçaram a hipótese de construção de três hospitais por absoluta falta de recursos na ótica deles. A promessa de reduzir a conta de luz, o número de homicídios e a passagem de ônibus, pareciam utopias de um maluco candidato a governador.
Mas aquela campanha foi especial e igualmente histórica. Ela mudaria para sempre a história de Pernambuco. Já quando as coisas estavam caminhando para a vitória de Eduardo Campos, veio o tiro de misericórdia na campanha de Mendonça Filho. Ariano Suassuna, num comício, puxa um dos frevos mais tradicionais do nosso estado: Madeira do Rosarinho. A militância foi à loucura entoando junto com Ariano aquela que viria a ser a marca registrada de Eduardo. Foi caixão e vela-preta. Eduardo foi eleito governador de Pernambuco.
Pouco a pouco, após receber, justiça seja feita, um estado saneado por Jarbas Vasconcelos, Eduardo foi imprimindo sua marca. E os 65% dos votos válidos que ele recebeu no segundo turno contra Mendonça Filho foram aumentando em índices de popularidade. As coisas deram tão certo que na sua reeleição em 2010 Eduardo derrotou seu adversário Jarbas Vasconcelos com quase 84% dos votos válidos. Foi a maior vitória do país.
Sem a concorrência de Aécio Neves, que já não era mais governador de Minas Gerais, Eduardo Campos liderou tipo Ayrton Senna, de ponta a ponta. Todas as pesquisas entre janeiro de 2011 e março de 2014 colocavam Eduardo como o melhor governador do Brasil. Mas por quê essa aprovação?
Porque as utopias de Eduardo foram se tornando realidade. Para a segurança criou o Pacto Pela Vida que reduziu drasticamente o número de homicídios no estado. Para o transporte público criou os Terminais Integrados de Passageiros. Para a saúde, não só construiu os três hospitais como havia prometido em campanha, como também construiu várias UPAs, permitindo um desafogamento do sistema público de saúde no estado.
Na educação viabilizou a gratuidade da UPE, pleito antigo de estaduantes, e ampliou o número de Escolas em Tempo Integral. Além disso construiu várias Escolas Técnicas Estaduais por todas as regiões do estado. Eduardo era um defensor ardoroso da educação e do conhecimento.
Além de tudo isso, foi capaz de maximizar as potencialidades econômicas do estado. Teve a visão de inverter prioridades. Quando todo mundo olhava pra Suape como sinônimo de desenvolvimento e atração de indústrias, Eduardo olhou mais pra frente. Viu que o Sul do estado já estava saturando, e decidiu levar a fábrica da FIAT para Goiana, no lado Norte do estado, que nunca imaginou a possibilidade de receber indústrias de porte como recebeu.
Após fazer o melhor governo da história de Pernambuco, poderia se acomodar no Senado Federal. Uma disputa para a Câmara Alta seria pule de dez. Muito provavelmente elegeria o sucessor e ficaria na tribuna do Senado defendendo os interesses do seu estado. Mas ele queria algo mais, Pernambuco já estava pequeno demais para Eduardo.
Ele tentou, contrariando alguns prognósticos, a presidência da República. Se preparou para a disputa. Construiu as condições mínimas para não fazer feio na eleição presidencial. No dia 12 de agosto de 2014 concedeu uma entrevista épica à bancada do Jornal Nacional. Seguro, inteligente e preparado, dava ali o pontapé inicial para buscar o Palácio do Planalto.
Mas quis o destino que naquele fatídico 13 de agosto de 2014 o sonho de Eduardo e de milhares de pernambucanos e até mesmo brasileiros fossem ao chão junto com aquele avião. Naquele avião o ladrão de corações saía de cena para acabar uma das mais belas carreiras políticas de Pernambuco.
Assim como Ayrton Senna, Eduardo morreu fazendo o que gostava. Sonhando um sonho de um Brasil melhor. Igualmente como Ayrton Senna deixou o Brasil perplexo, desolado, e órfão da incerteza de como seriam as coisas se aquele acidente não tivesse acontecido. Num mar de mediocridade e falta de líderes, Eduardo teria condições de apontar caminhos, seja no Palácio do Planalto como presidente, seja liderando a oposição. Sua voz e suas utopias fazem falta ao Brasil mas em Pernambuco todo o seu legado está presente nos quatro cantos do estado.
OBS.: Excepcionalmente não escreveremos as habituais notas da nossa coluna.