Por Maurício Romão
O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), em parceria com o portal LeiaJá e o Jornal do Commercio, já realizou cinco pesquisas de intenções de voto para prefeito do Recife, de dezembro do ano passado a junho deste ano. Os levantamentos têm margem de erro de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos, nível de confiança de 95%, e têm aplicado, em média, 812 questionários por enquete.Os cinco levantamentos tiveram as mesmas concepções estatísticas e características metodológicas.
Neste texto estão apresentadas algumas informações, transformadas em gráficos, extraídas das referidas pesquisas, sobre o desempenho eleitoral da oposição. Sob esta denominação entenda-se o grupo de postulantes à prefeitura do Recife, formado por Mendonça Filho, Daniel Coelho, Raul Henry e Raul Jungmann.
Nesta fase de pré-candidaturas, antecedente às convenções partidárias, os institutos de pesquisa se vêem obrigados a formular diferentes cenários a cada levantamento, em função das constantes mudanças da cena política. Cenários com diferentes atores não são comparáveis.
Ainda assim, considerando os cenários em que os quatro pré-candidatos oposicionistas estiveram presentes, sempre num mesmo cenário, é técnica e metodologicamente admissível computar a média de intenções de voto de cada postulante, em cada pesquisa, e traçar suas trajetórias ao logo do tempo, comparativamente.
Intenções de voto
O Gráfico 1 mostra a evolução da média de intenções de voto dos pré-candidatos oposicionistas, da primeira pesquisa de dezembro até a última de junho.
Nota-se que a linha que retrata as preferências dos eleitores pelo ex-governador Mendonça Filho situa-se sistematicamente bem acima do bloco formado pelos demais postulantes. No período considerado, de dezembro a junho, suas intenções de voto, contudo, não se alteram, cravando 17%, no início e no fim.
Fonte: elaboração própria, com base nas pesquisas IPMN
O desempenho do pré-candidato democrata é digno de nota. Nas pesquisas IPMN ele é sempre um dos dois líderes em intenção de votos, independente do concorrente situacionista, e sempre, também, tem desempenho bem acima de seus pares oposicionistas.
Nesse mesmo espaço de tempo, coberto pelos cinco levantamentos, as intenções de voto de Raul Henry e Raul Jungmann decrescem e a de Daniel Coelho fica estagnada. Esse desempenho evolutivo da oposição está espelhado no gráfico seguinte.
Situação versus oposição
Enquanto o pré-candidato da situação era o prefeito João da Costa, da pesquisa de dezembro até a de abril, a soma das intenções de voto do grupo oponente situava-se, em cada levantamento, sempre acima do percentual conferido ao atual mandatário municipal. A trajetória, todavia, além de declinante de janeiro a abril, fica estagnada no período total dos quatro levantamentos.
Fonte: elaboração própria, com base nas pesquisas IPMN
Esse contexto, em que a linha de intenções de voto da oposição se posta acima da linha da situação, caracteriza tendência do pleito decidir-se no segundo turno, considerando ainda que as intenções de voto dos pré-candidatos olímpicos, do PSOL, PSTU, etc., tendem a aumentar essa diferença e as baixas manifestações de preferência de votos que têm sido dadas aos eventuais pré-candidatos “alternativos” não alterariam esse quadro.
Quando, entretanto, o senador Humberto Costa entra em cena, na pesquisa de junho, a evolução declinante do somatório de votos da oposição se acentua e, pela primeira vez, a situação supera o conjunto oponente. A permanecer esse hiato – representante situacionista com intenções de voto superiores ao total conferido ao grupo da oposição – a eleição tende a ter desfecho no primeiro turno. Os votos válidos da candidatura líder superariam 50% mais um.
Pode-se dizer, portanto, que a oposição não tem sabido aproveitar-se da gravíssima crise petista e da consequente contaminação refletida no seio da Frente Popular. Pelo contrário: tem perdido espaço junto ao eleitorado recifense.
Os motivos dessa inércia vão desde a desunião reinante nas suas hostes, passando pela ausência de estratégia conjunta, e desembocando na insistência de manutenção de candidaturas notoriamente inviáveis, a par da falta de criatividade na concepção de mensagens inovadoras que despertem a emoção do eleitorado.
Oposição ao prefeito
Quando o eleitor é inquirido pelo pesquisador do IPMN sobre qual dos pré-candidatos melhor representa oposição ao atual prefeito recifense, os respondentes, majoritariamente, apontam o deputado federal Mendonça Filho (vide Gráfico 3).
Fonte: elaboração própria, com base nas pesquisas IPMN
Mais que isso: as indicações de que o deputado é o maior oponente crítico ao gestor municipal segue trajetória nitidamente ascendente. Com esse diapasão, e em virtude das baixas taxas atribuídas aos demais componentes do lado adversário do prefeito, infere-se que o eleitorado enxerga no ex-governador o único que realmente faz frente contestatória ao prefeito cuja administração segue sendo muito mal avaliada.
Mais preparado
Quando submetidos à pergunta estimulada sobre quem seria o candidato mais preparado para ser prefeito, o nome do deputado Mendonça Filho destaca-se, novamente, no contexto da oposição, o que pode ser percebido nas informações consolidadas no Gráfico 4.
Fonte: elaboração própria, com base nas pesquisas IPMN
As manifestações favoráveis dos eleitores sobre a capacidade do deputado de gerir a prefeitura da cidade do Recife crescem continuamente de uma pesquisa para outra. No último levantamento de junho tais manifestações atingem quase um quinto do eleitorado.
É oportuno registrar que já na pesquisa de abril, o ex-governador havia ultrapassado, pela primeira vez, as intenções de voto consignadas ao prefeito João da Costa nesse quesito e liderava a pontuação entre todos os pré-candidatos. Agora em junho, as atribuições de capacidade para ser prefeito foram bem maiores para o recém-indicado pré-candidato pelo PT, Humberto Costa, com 37%, coerente com seu destacado desempenho em intenções de voto.
Mais uma vez, os demais componentes do bloco oposicionista recebem percentuais bem abaixo daqueles consignados ao pré-candidato democrata, o que está compatível com o quadro geral das pesquisas IPMN, que atribui baixa preferência do eleitorado por esse subgrupo, em termos de intenção de votos.
Considerações finais
Dos números registrados pelas cinco pesquisas IPMN salta aos olhos a incapacidade da oposição de capitalizar as insatisfações da população diante da desacreditada gestão petista.
Os oposicionistas também não souberam tirar proveito da chafurdação em que se transformou a incompreensível e autofágica indicação do representante do PT à disputa de 2012.
O grupo como um todo, e seus componentes individualmente, não chegou a despertar emoções do eleitorado, a ponto de transformá-las em intenção de votos. O único pré-candidato que se tem mostrado competitivo – o ex-governador Mendonça Filho – detém uma razoável parcela do eleitorado recifense, mas suas intenções de voto estão estagnadas desde a primeira pesquisa de dezembro.
Está bastante claro que a oposição não encontrou ainda um discurso que pudesse persuadir o munícipe recifense a repensar suas preferências já manifestas, ou atrair aquele núcleo que ainda está em dúvida, indeciso, ou que não quer votar em ninguém ou mesmo anular o voto. Os altos percentuais dessa categoria de votos – no entorno de 35% – apontam para um dos indícios da ausência de conexão da oposição com os eleitores, visto que ela não consegue atrair para suas hostes os que se encaixam na mencionada categoria de votos.
Essa ausência de norte, de prumo, de estratégia, é evidente no seio oposicionista. Se este núcleo pretende avançar na conquista de adeptos na eleição de outubro precisa repensar-se. E fazê-lo urgentemente, já que se está a apenas três meses e meio do próximo pleito.
Por seu turno, a insistência da oposição na manutenção de quatro candidaturas na atual corrida à PCR não é eleitoralmente recomendada, principalmente se houver possibilidade do desfecho do pleito ocorrer no primeiro turno. Os votos se dispersam entre os quatro pré-candidatos e a eventual melhoria posicional de um componente, em termos de intenção de votos, tende a se dar em detrimento de alguém do próprio conjunto, já que todos disputam a mesma faixa do eleitorado.
A redução do número de candidaturas para duas, no máximo, teria a vantagem de concentrar os votos dos que se opõem à gestão petista, facilitar a estratégia de discurso e de ações de campanha, além de aumentar o tempo disponível da oposição no horário gratuito de rádio e TV.
Em síntese, premida pelo pouco tempo que dispõe para despertar sentimentos de simpatia e angariar manifestações de votos no eleitorado, faltando um pouco mais de 100 dias da eleição, a oposição precisa coordenar-se urgentemente, incluindo nesse requesito a redução do número de candidaturas.
Se não o fizer, quer dizer, se a oposição não montar uma estratégia consistente a ponto de despertar os sentimentos e emoções dos eleitores para suas ações e propostas, corre o sério risco de continuar perdendo pontos de intenção de votos e acabar sendo engolida por uma eventual polarização PT/PSB. Estes partidos, a julgar pelos desdobramentos recentes, poderão ser os reais protagonistas do pleito, abrindo até a perspectiva de ambos irem ao segundo turno, se houver.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. [email protected], http://mauricioromao.blog.br.
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