Por Terezinha Nunes
Os recifenses engoliram em 2008 um prato feito que lhes foi servido na bandeja pelo então prefeito João Paulo – na época com recorde de aprovação. Como cordeiros deram a João da Costa, um ilustre desconhecido, uma vitória inimaginável meses antes quando JP tornou público o slogan “João é João”.
Com o mesmo pré-nome, uma amizade de anos e um grupo político comum, os dois Joões pareciam ter vida longa e ascendente na política. E começaram bem, impondo ao PT, ao presidente Lula e ao atual senador Humberto Costa, uma candidatura na qual poucos acreditavam.
Irmãos siameses, os Joões, porém, acabaram se desentendendo por motivos até hoje ignorados, e, da mesma forma que cresceram juntos, entraram em um processo de autodestruição que alcançou níveis inimagináveis, vem desmoralizando outras lideranças importantes do PT e ameaça por a pique o próprio petismo em Pernambuco.
Não há outra explicação para a enrascada em que se meteram a não ser a sede cega de vingança.
Há tempos está claro que os dois não cabem mais no mesmo partido. Mesmo assim, até o momento não se mostraram dispostos a abandonar o barco, como se alimentassem o desejo macabro de naufragarem juntos.
João Paulo, com uma boa aceitação no Recife, poderia ter saído do PT e ingressado em outra legenda a tempo de concorrer ao pleito deste ano, como desejava, com chance de alcançar uma vitória, credenciando-se para voos mais altos no futuro.
João da Costa, com expressão política menor que o seu criador, ficou, anos a fio, paralisado, desprezando companheiros de outras legendas e fixado única e exclusivamente na tarefa de perseguir os aliados de João Paulo na PCR.
Enquanto os problemas do Recife se agudizavam, o trânsito tirava a paciência do mais simples mortal e a capital claudicava nos setores de educação e saúde, os dois Joões cuidavam de expor suas escaramuças dentro e fora do PT, espalhar petardos por todos os lados e praticar uma autofagia sem limites.
Hoje João Paulo, de estrela ascendente do PT, virou um político que não tem mais o respeito do seu próprio partido, não agrada ao governador Eduardo Campos e só serve às legendas da chamada Frente Popular como isca para rifar João da Costa.
O prefeito, vaiado até pouco tempo em ambientes públicos, hoje é cumprimentado nas ruas pela coragem pessoal que demonstrou ao denunciar o caciquismo petista que lhe tirou a chance de disputar a reeleição, mas dificilmente conseguirá o que deseja: ganhar na justiça o direito de ser candidato, tendo que se contentar com um papel secundário em sua própria sucessão.
Em política as coisas podem mudar até de um dia para outro mas dificilmente os dois Joões vão conseguir recompor a carreira que iniciaram juntos, que demonstrava ser promissora, mas sucumbiu por interesses pessoais, não se sabe se republicanos ou não.
Se desejarem continuar em cargos eletivos daqui para a frente os dois Joões terão que, no mínimo, ficar em legendas diferentes.Mas pelo mal que fizeram ao PT com o casamento e o tumultuado divórcio que protagonizaram, não vai ser fácil conseguir um abrigo seguro no futuro.
CURTAS
Rompimento – Já tem militante do PT, filiado à CNB, tendência do senador Humberto Costa, preparado para iniciar movimento dentro do partido favorável rompimento com o governador Eduardo Campos tão logo seja confirmada a decisão do PSB de lançar candidato próprio a prefeito do Recife. Defende-se abertamente a entrega dos cargos ocupados por petistas sob a alegação que de que não teria sentido ficar em uma administração não alinhada ao projeto petista na capital.
Xadrez complicado – Com a oposição cada vez menor e a ausência de candidatos governistas com expressão eleitoral na capital, a eleição do Recife este ano não tem favoritos. Mesmo senador, Humberto Costa entra na disputa enfrentando companheiros do próprio PT que não desejam apoiá-lo. O candidato do PSB, seja ele qual for, terá apoios de peso como o do governador mas só agora vai iniciar pra valer uma carreira política. Nesse quadro, os quatro nomes da oposição – Mendonça Filho, Raul Henry, Daniel Coelho e Raul Jungman – ficaram mais competitivos e um deles pode no final disputar de igual para igual com os nomes governistas.
Sem fumo – “É proibido fumar”. Este será o lema a partir desta segunda-feira no Centro Debate, na Ilha do Leite, escritório político do senador Jarbas Vasconcelos. Os funcionários estão convencidos de que Jarbas vai parar de fumar depois da cirurgia coronariana e começam a se preparar para a realidade de afastar definitivamente o cigarro do convívio do senador. Um dos seus mais fiéis escudeiros, Petrônio Siqueira, também fumante, já decidiu também aposentar o cigarro.
Deixe um comentário