Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Sócio-cotista da www.cenariointeligencia.com.br. Autor de variados livros e artigos sobre o comportamento do eleitor e estratégias. Colaborador do Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau.
São inúmeros economistas que consideram que a realização do ajuste fiscal possibilitará a superação da “crise” econômica que assola o Brasil. Se tal premissa for verdadeira, prevejo que o Brasil superará a “crise”, a qual não é volumosa. Se a superação da crise ocorrer, a presidente Dilma recuperará popularidade?
Desde o ano passado existem previsões catastróficas para Dilma Rousseff. Inicialmente, a previsão era de que Dilma não seria reeleita. Assim como previ, Dilma venceu a eleição. Sentimentos de medo com o passado fernandohenriquista por parte de parcela do eleitorado permitiram o sucesso da candidata do PT. Após a posse da atual presidente, a possibilidade de impeachment veio à tona. A tão propalada tempestade perfeita orientou diversas análises conjunturais.
O aumento da inflação, intrigas entre o Executivo e o Legislativo, o pessimismo do setor produtivo, o ajuste fiscal e diversas manifestações nas ruas fizeram com que a tese do impeachment da presidente Dilma prosperasse. Porém, a análise conjuntural não é tarefa para principiantes. Para desenvolvê-la, o olhar precisa ser sistêmico.
Embora pesquisas de opinião mostrassem o desejo de parte majoritária dos eleitores para o impedimento da presidente Dilma, os atores que poderiam conduzi-lo agiram para não realizá-lo. Eduardo Cunha e Renan Calheiros, apesar das intrigas e ameaças, as quais são corriqueiras na relação Executivo-Legislativo, não mostraram disposição para liderar o impeachment da presidente. E FHC, José Serra e Geraldo Alkmin não defenderam a tese do impedimento da atual presidente.
Eleitores, em particular das classes A e B, conforme mostraram as pesquisas de opinião, foram às ruas reclamar da presidente. A ausência de líderes políticos para inflamar os manifestantes e conduzir o impeachment no âmbito do Parlamento enfraqueceu as manifestações. Os sufragistas cansaram de protestar já que verificaram que as consequências dos protestos não foram efetivas.
O pessimismo do empresariado e dos eleitores para com o futuro, a deterioração de indicadores econômicos e denúncias de corrupção motivam a alta reprovação da presidente Dilma. Porém, tal reprovação não foi e certamente não será suficiente para ela sofrer impedimento. Sendo assim, qual será o futuro do governo Dilma?
Se for empiricamente verdadeiro que o ajuste fiscal contribuirá para a recuperação da economia, prevejo que o governo Dilma Rousseff readquirirá parte da sua popularidade. Porém, tal recuperação poderá não ser pujante, em razão de dois fatores: 1) A recuperação da economia não trará de volta os exitosos indicadores socioeconômicos observados na era Lula; 2) Dilma sofre de déficit de empatiaentre os eleitores. Portanto, a melhora econômica não trará, obrigatoriamente, o aumento pujante da popularidade da presidente.