Por Arthur Virgílio*
A política econômica do governo Dilma se revela errática. Adota medidas pontuais e insuficientes para buscar a retomada. Não contempla as colinas do longo prazo.
Lida com inflação (elevada, apesar de maquiada), em seus dois primeiros anos. Mantega inaugurou 2012 alardeando crescimento de 4,5%. Cansei de escrever que não chegaria a 3%. Hoje, é consenso no mercado que, no máximo, repetirá 2011: 2,7%.
A média da inflação de 2011 e 2012 ficará em torno de 6%. O déficit em conta corrente ultrapassará US$68 bilhões. E a valorização do dólar, diante do real, não conseguiu melhorar o desempenho das exportações.
Lula e Dilma abandonaram a perspectiva das reformas estruturais. Ele passou 8 anos evitando desgastes e deixando de aproveitar o êxito da economia internacional, com os preços das commodities lá no alto. Sem falar que se beneficiou do país reformado e organizado que herdou. Apenas prosseguiu as políticas econômicas de Fernando Henrique e prestou desserviço ao Brasil, quando artificializou crescimento de 7,5%,em 2010, para eleger, sua candidata. Tal gesto foi o apito inicial para a desorganização da economia.
Ela administra o cotidiano de um modelo que se esgotou. Não conseguirá levar-nos a crescimento sustentável e duradouro, se imagina que o caminho, ao invés das reformas e do aumento da taxa de investimento, é o crescimento do consumo, por das endividadas famílias. O que gera desenvolvimento é o investimento. Baixo investimento e estímulos pouco consequentes ao consumo já resultaram em espasmos. Agora, nem mais isso.
O tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários está sendo desmontado, a cada dia, pelas ideias retrogradas de Mantega. O Fundo Soberano Brasileiro (FSB), constituído, em dezembro de 2008, no valor de R$14,30 bilhões, vale, agora, R$14,25 bilhões. Conclusões: a) o FSB tem dado prejuízo aos brasileiros; b) se se tratasse de fundo privado, Mantega já teria sido demitido.
As ações da Petrobras valem menos, na atualidade, do que valiam na fase mais aguda da crise de 2008. Isso apesar do aumento das reservas provadas, apesar do pré-sal. A empresa tem sido tão mal gerida, que nada disso serve para lhe valorizar as ações ordinárias nominativas e preferenciais nominativas.
Tantas medidas atrasadas, o governo adotou, contra o ingresso de capitais externos que agora corre atrás de investidores que, visivelmente, perdem o encanto com nossa economia. Entristece ler o respeitado consultor (na Inglaterra, consultor faz consultorias mesmo; aqui, apaniguados do poder enriquecem com “consultorias”) britânico Simon Anholt: “(o Brasil) é um país que desperta carinho, mas não respeito”.
Na sucupira do prefeito Odorico, Anholt logo seria considerado persona non grata pelos Vereadores. As três pombinhas aplaudiriam de pé.
A realidade é outra. Devemos mergulhar nas nossas águas mais internas e delas emergir com a consciência da responsabilidade que pesa sobre nossos ombros.
Trabalhar duro e na direção correta é o que tem de ser feito. Nada contra merecer o carinho dos ingleses. Mas precisamos preparar-nos para exigir verdadeiro respeito, de quem quer que seja.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
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